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domingo, 22 de janeiro de 2012

Letras torcidas


Detesto pessoas efusivas, que falam demais, que nem sabem o que é ser ou o que é ter. Não gosto de pessoas cheias de amigos e que não possuem amigos nenhum, aquelas rodeadas por fantoches… Que controlam as cordas de todos. Não gosto das pessoas que mentem pra você e mentem sobre você para os outros, ou mentem sobre os outros para você. Pessoas que mal sabem o que são e que saem por aí dizendo ‘ser’ também são insuportáveis. Não gosto do estilo de vida de pessoas multifacetadas, que vestem-se de estampas finas todos os dias, escondendo atrás de si sua essência Não gosto de aparências, status ou posições. Detesto números e comentários. . Detesto , no apogeu da palavra, conotação e motivos literários, a existência de todas as pessoas.
E podem me julgar como quiserem, como já falei, não gosto de pessoas e certamente não gosto de você, com seus mil defeitos, suas mil e uma qualidades… Julgue! Sinta-se a vontade para fazer o que geralmente é feito: se vista com a peruca de juiz e sentencie a minha morte. Fará a mim tão bem… Mas tão bem que você desistirá.
Gosto de coisas explícitas, verdadeiramente verdadeiras, sem maquiagem do tempo. Gosto de sentir o cheiro do limpo, desmascarado, do interior… Sou lunática, errante, complexa e, dentre tantos outros “sou” é que eu me perco. Perco-me por que na verdade sou vielas, pequenas vielas que te levam para uma infinitude de caminhos. Quanto mais caminhos um homem possuir, menos direito de errar ele tem. Parabéns, eu sou vielas.
É estranho começar a falar de mim em uma narrativa em que eu sou o centro, mas que quase não apareço. Ficarei encostada, no canto, cruzando os dedos para que as palavras escorreguem mais devagar, que possam aparecer somente em seu tempo certo. Evitar pequenas fugas de idéias é prioridade, não se pode adiantar o fim, assim como não se pode adiantar a morte. Opa! Viu aí? Já falei demais…
É difícil falar de vida quando se há morte. Você teme falar demais e perder todo o tempo que lhe resta – Dois, três anos? Quem sabe?! Mas, mais difícil que falar da vida, é falar da morte. A morte não pode ser questionada, ou então ela virá pessoalmente te explicar tudo sobre tudo. Não se cutuca a morte com vara muito curta. E depois dela? Que sabemos nós? O jeito é esperar- com medo para os mais ajuizados, para entender depois que ela vir. Mas, a verdade, é que não importa a ordem dos fatores. Não importa o que vem depois da morte, morra primeiro, só isso.
Pior que questionar a morte, no entanto, é perguntar suas dúvidas à vida. Diferente da morte, a vida não te abraçará e te levará para um destino. A vida vai apresentar todos os destinos e vai te pedir para que escolha apenas um. As mil e uma possibilidades é que me fazem perder a cabeça. Vou ou não? Fico ou não? Perguntas como estas podem mudar uma vida inteira, direcionar para diversos caminhos… Viver sobrepõe todas as expectativas. Não é porque você respira, tem um coração que bombeia sangue para todo o seu corpo, células capacitadas, um cérebro pensante… Que você vive. Chega um determinado momento da vida que você descobre estar morto. E então se morre de novo, por que é difícil aceitar a não-vida-permanente.
Quero a voz macia do vento soprando ao meu ouvido. Quero um ambiente bucólico, às avessas de mim. Gosto de contrastes e por isso eu não posso estar no inferno. Não sei se o caro leitor já percebeu, mas falo verdade demais, são tantas que se embolam… Como já disse, estou tentando manter os dedos cruzados, mas eles descruzam por vida própria. São dedos, não humanos que são facilmente controlados, são dedos e possuem, como disse, vida própria.
Há verdades que devem ser ditas de voz alta, há outras que, se ditas assim, podem machucar. São essas as minhas favoritas, pois afastam de mim todo e qualquer ser humano que não me suporte. Eu não me suporto e falo a verdade para mim às vezes, amanheço murcha, me odiando ainda mais.
Por fim, um pedido: Eu não sei pedir. Sinto-me insegura quanto a esses assuntos. Escrever muitas vezes é mentir para falar a verdade. Assim como a nós mesmos, nada se deve ser lido ao pé da letra. Ignore alguns detalhes que deslizaram, vire um ouvido surdo para as partes desagradáveis, rabisque borboletas em cima dos trechos que você detestar. Infelizmente eu sou eu mesmo e por isso não removerei um milímetro de letra presente neste espaço.
CLARISSA DAMASCENO MELO

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