Homens e mulheres de meu século,
Jamais silenciem.
Mordam as mordaças
Que lhes forçarem usar.
Escuto os tempos do absurdo,
Debruço-me sobre lágrimas.
A Era da Barbárie não morreu:
Está aqui, ensanguentada.
O lucro capitaliza as emoções,
E até a minha lágrima que escorre
Tem preço.
O beijo já não se beija:
Compra-se.
Não mais existe o entre-bocas,
Somente o privilégio
De beijar ouros e joias e terra...
Homens e mulheres de meu século,
Permito que, sobre mim,
Chorem.
Legitimo vossas lágrimas
Ante minha ressecada pele.
Sou o calor de mãe
Que afaga o filho sem terra
Sou a mão da mãe
Que toca o corpo gelado do filho morto,
Baleado,
Que fazia manobras no sinal.
Sou a poesia livre,
Encharcada de sangue
Dos filhos de mim arrancados,
Dos filhos que não pude criar.
Filhos,
Não vos assombreis
Com o abalar de meu coração.
Não vos desespereis
Com esse mundo de injúrias.
Teus pés descalços ardem,
Mas são capazes de andar.
Marchem, filhos,
Marchem juntos.
Lado a lado,
Ombro a ombro.
No principiar da Nova Era,
Eu sou a mãe de braços abertos.
No meio do tiro atravessado
E da justiça tardia,
Eu sou a revolta.
Eu sou a Mãe-Terra,
Eu sou o amanhã.
- Clarissa Damasceno Melo
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