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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Não é tempo de silêncios.

Homens e mulheres de meu século, 
Jamais silenciem.

Mordam as mordaças
Que lhes forçarem usar. 

Escuto os tempos do absurdo,
Debruço-me sobre lágrimas.

A Era da Barbárie não morreu:
Está aqui, ensanguentada.

O lucro capitaliza as emoções,
E até a minha lágrima que escorre
Tem preço.

O beijo já não se beija:
Compra-se.

Não mais existe o entre-bocas,
Somente o privilégio
De beijar ouros e joias e terra...

Homens e mulheres de meu século,
Permito que, sobre mim,
Chorem.

Legitimo vossas lágrimas
Ante minha ressecada pele.

Sou o calor de mãe
Que afaga o filho sem terra

Sou a mão da mãe
Que toca o corpo gelado do filho morto,
Baleado,
Que fazia manobras no sinal.

Sou a poesia livre,
Encharcada de sangue
Dos filhos de mim arrancados,
Dos filhos que não pude criar.

Filhos,
Não vos assombreis
Com o abalar de meu coração.

Não vos desespereis
Com esse mundo de injúrias.

Teus pés descalços ardem,
Mas são capazes de andar.

Marchem, filhos,
Marchem juntos.

Lado a lado,
Ombro a ombro.

No principiar da Nova Era,
Eu sou a mãe de braços abertos.

No meio do tiro atravessado
E da justiça tardia,
Eu sou a revolta.

Eu sou a Mãe-Terra,
Eu sou o amanhã. 


- Clarissa Damasceno Melo

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