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sábado, 21 de janeiro de 2012

Café da manhã



Hoje acordei em uma desesperança absurda. Tomei duas ou três xícaras de café amargo e caminhei até a sala. Sentei e encostei a cabeça no sofá. E então, antes que o Sol pudesse invadir minha casa, fui invadida por lembranças. Antes mesmo que o Sol, todas as memórias mortas ressurgiram e me fizeram presentes um pouco.
E quanto mais próximas ficavam, mais desesperança eu acumulava. Não vou dizer que chorei pois quero mentir. Não vou dizer que me odiei por que quero mentir. Eu quero mentir, por isso digo sempre que estou bem. Por que eu quero estar bem. Quero. 
E então tentei conversar com minhas lembranças. Pedi para que elas retornassem de vez em quando apenas. Prometi que as oferecia chá ou café amargo. Mas elas não ouvem não é mesmo? Elas… Elas não somos nós e não poderiam aceitar uma oferta tão estúpida. Lembranças surgem, não são.
E então, com a cabeça encostada no sofá conversei com elas. Me odiando ainda mais por ter… sobrevivido. Mas quem sou eu para… amar a sobrevivência? Quem sou eu para me fazer de forte quando poderia estar desabando? E essa música que toca no meu coração não é música. É o barulho da chuva no chão.
E essa solidão que existe em mim não é solidão. Por que eu tenho companhia. Eu tenho a dor de cabeça. Eu tenho a insônia. Eu tenho a dor de dentes. Eu tenho a desesperança. Eu tenho… a mim. E se tenho a mim eu não poderia estar só, e eu não estou só. E a solidão foi embora. 
CLARISSA DAMASCENO MELO
2011

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