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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ele dela.


Ela disse:
-O que eu tenho de diferente?
Ele olhou-a de baixo para cima e de cima para baixo por alguns segundos, e antes que pudesse responder algo como “cabelo?”, “brincos?”, ela disse:
-Hein?
Fazendo biquinho, ele olhou-a de novo e de novo e de novo... mas não encontrava nada que pudesse dizer “oh, isso mudou.”
Por que é que tem mulher que precisa ser notada para se sentir bem? Pior: por que mulher faz força para ser notada? Eu não. Quem quiser que me note, me toque, me sinta. Eu é que não vou fazer força. Ou sente ou não e acabou.
-Bem... – Respondeu ele, mas quando olhou os olhinhos da esposa brilhando, ansiosos por uma resposta rápida e precisa, parou para respirar e repensar.
-Me diz... O que eu mudei?
E a tortura mental na cabeça do moço o fazia agonizar e morrer segundo por segundo. Ele já havia tido umas três mortezinhas naquela mesma semana com outras perguntinhas que errou. E ele não podia errar de novo, não é? Não poderia magoar os olhinhos úmidos que brilhavam a sua frente.
E o que é que pode ser melhor que a verdade que nos perpassa muito em sempre, nossos próprios pensamentos e... Oh, tanta coisa!? E antes que pudesse responder “Cabelo?”, “Brincos?”, seu coração disse “esmalte” e da sua boca saiu:
-Desculpa querida, não vejo nada além da mulher maravilhosa com quem me casei.
E petrificada a mulher parou ali por segundos e correu para o abraço do esposo, e em seu ouvido disse baixinho:
-Obrigada querido. Essa era a resposta para as outras perguntas dessa semana, pois não mudei nada. Cada milímetro está em seu lugar. Queria ver se você prestava atenção em mim, e eu te amo por não tentar me enganar.
E abraçados, caíram no beijo morto. E ficaram ali, abraçados pela escuridão da noite.

CLARISSA DAMASCENO MELO
2012

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