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sábado, 21 de janeiro de 2012

Feliz Natal



Queria lembrar coisas para você. Pequenas coisas. Mas, quando se fala Natal nossos olhos brilham à espera de… de pisca-pisca, peru e presentes. E, não. Não vou falar disso nem da atmosfera de fraternidade que se molda nestas datas. Quem me conhece sabe porque, quem não me conhece também sabe. Só não sabe que sabe.
Às sete horas da noite seus convidados adentram a sua sala e te elogiam pela belíssima decoração. Às sete horas da noite, um ronco agudo sai barriga afora da criança com fome na esquina. E ela está faminta e não há bolas coloridas em sua árvore. Não há bolas, não há presente, e a árvore não pisca.
Às oito horas você põe a mesa. Se queixa por que esqueceu de comprar mais um peru, pois este não é suficiente para matar a fome inexistente no estômago de seus convidados. Às oito horas a criança faminta se queixa por não achar peru algum.
Às nove horas você grita com a sua criança por estar colocando o dedo na calda doce de abacaxi que você usou para decorar a farofa. Às nove horas a criança com frio leva bronca por estar pedindo na inconveniente noite de Natal. Mas aí é que se estende a inextendível. A noite é de Natal. A fraternidade que você usou como máscara dentro de sua sala, cai ao chegar à varanda e ver o espectro de uma criança com fome. E você nega esse prato de comida. E você nega tudo que, internamente, você prometeu para o mundo.
Às dez horas você pede paciência para os convidados que já reclamam do estômago vazio. Vai à cozinha e prepara alguns petiscos para os impacientes. Às dez horas a criança vaga acompanhada de impaciência e falta de fé pelas ruas mortas de seu coração.
Às onze horas você diz que falta pouco. Pouco para o Natal começar de verdade. Pouco para a ceia. Pouco para os presentes. Pouco para… Às onze horas a criança doída sabe que ainda faltam eternas horas para seu presente. E agarrada na boneca de pano que achara no lixo, a criança chora.
Às doze horas, no ritmo agitado dos sinos da igreja, você não pode conter suas crianças que atacam a mesa de supetão, muito menos seus convidados que reclamavam de fome. Você não agradece a comida que tem, nem, - em seu íntimo - sente-se feliz por passar mais um Natal com tudo que uma criança com fome sonha. Às doze horas, agarrada à mesma boneca, com lágrimas a escorrer devagar, a criança com frio encosta na parede e se deixa deslizar. Ao sentir o chão, sussurra baixinho: Parabéns Jesus.
FELIZ NATAL (:
CLARISSA DAMASCENO MELO

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