Páginas

sábado, 27 de setembro de 2014

Utopia.

Bocas
bocejaram
beijaram
balbuciaram, bocas

falaram da guerra civil
espanhola - e então beberam vinho
da crise de 29
dos irmãos chilenos golpe de 64 bombardeio 
militantes presos capitalismo sonho união soviética
américa e coreia do norte

redigiram utopias
nas linhas invisíveis sob olhos atentos

falaram de tudo e de si mesmos
retinas coladas 
corpos sujos, cansados

no céu, o céu apenas
e eles se abraçaram sem nem perceber as estrelas
já as tinham visto 
milhões de outras vezes

nem as estrelas
poderiam brilhar mais que aquele momento:

no chão, 
abraço de primavera
suor e vinho tinto.

a utopia é doce
de se comer junto. 

Cdmelo

Eu em ti.

Chegastes
No momento mesmo 
Em que fechava meu coração 
Às janelas do mundo.

Com tua calmaria e silencio
Fostes abrindo brechas 
Nos muros intransponíveis
Que eu mesma criei.

Fostes ficando, 
Mudo, habitado em meu mundo. 

Com as pontas dos dedos
Encontrastes a delicadeza mais interna e íntima
De meu machucado ser.

E sentir a ponta dos teus dedos
Leves, serenas, afastando a distância entre nós
É poder doar-te a chave de mim.

Não precisas estar mudo, fala!
Já não suporto meu silêncio - ele grita. 
Fala, que tua boca 
Tranquiliza minhas retinas. 

Se queres entrar, 
Entra sem bater.
Puxa a cadeira, senta. 

Fica. 

Cdmelo.