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sábado, 29 de junho de 2013

Dizagem besta.

Ouvi dizer - de dizagem besta,
Que tu chegarias.

Foi-se anos
Imaginando
O seu chegar.

Você não chegou.

E agora - em dizagem besta,
Eu digo que se vens, não venha:
Fique onde está.

CLARISSA DAMASCENO MELO

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Sobre por onde anda o coração.

Ninguém erguerá muros
Diante de meu povo
Sem que meu povo
Erga braços para derrubá-lo.

Ninguém impedirá
Os caminhos livres de meu povo
Nem barrará teus passos
Diante de meus olhos.

Não destruirão
Qualquer segundo de luta
Por que lutar é eterno
E só por isso meu povo não morre.

Nenhum com ideias doentes passará,
Pois cortaremos teus pés.

Nossos braços possuem aço,
Nossos olhos, o escarlate que escorre
Dos joelhos,
Das mãos,
Da fumaça das máquinas.

Tão só por isso,
Uma cor de sangue:

Vermelho.


CLARISSA DAMASCENO MELO

domingo, 9 de junho de 2013

Sou feita de barro.

Peço licença
Com a boca entreaberta
Que é para não incomodar
Essa gente que grita alto
Mas que não sabe gritar.

Estou ausente de meus olhos
Eles se desmontam de mim
Por pena.
Eu não preciso ver a porta entreaberta
Que me leva para o mundo
Que se esconde do lado de fora.

Meus olhos saltaram de mim,
Mas minhas mãos estão aqui, quentes,
Jogadas na inércia pura do devir.
Ora, ora, companheira, o mundo muda,
O mundo voa,
O mundo se transborda,
Mas não sai de si.

Eis de saber que meus olhos
Estão voltando para mim,
Estão rolando no chão de barro,
No barro dessa gente montada por mãos de Deus.
Eu sou barro puro,
Mas meus olhos...
Eles foram feitos de aço.

Rodopiem!
Sambem!

Não os verei à meia noite
Quando a explosão da pólvora
Rebobinar os anos de chumbo
Da bandeira amarela e verde.

A meia noite não chegará jamais
Para meus olhos de aço
Por que meu barro é vermelho
E pinga.

Gota por gota, colorir o Brasil.

CLARISSA DAMASCENO MELO