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domingo, 16 de dezembro de 2012

Uma prece por uma alma.

Se eu disser, meu Deus, blasfêmias
Considere que minha voz depende
Da surra mundial.

Se eu disser, meu Pai, que eu não O amo
É pecado gerado por meus dedos
Mentirosos e medíocres.

Se eu escrever, Senhor, em linhas diagonais
O que eu devia escrever no coração,
É erro meu.

Não quero de Ti a liberdade
Se minhas mãos voarem soltas.

Aliás, as minhas mãos têm voado soltas
Pelo mercado de almas.
Têm estado vazias,
E esse vazio, Pai, é o que me doi.

Não espalhe, Senhor, minhas falhas
Pois elas são fruto do mundo.

Eu fui feita de ser mundo.
De ser irresponsável e perene.
Mas é que eu, eu gosto de ser eu.

Eu gosto de fazer
O que a mim foi dedicado.
E se me rebelo diante de Ti,
É frustração que passa.

Pretendo sair do mundo ainda sendo ele.
Ainda vazia por dentro
Por merecer o vazio que já é meu.

E se esse vazio escorre de minhas mãos
Até a minha alma,
Então eu me rebelo.

Mas se meu vazio sair de minha alma,
E guiar-se lento até as minhas mãos,
Eu calo a boca.

Porque, Senhor,
Sou entendida de saber que mão vazia ainda cria calo,
Pés vazios, ainda têm destino,
Boca vazia, ainda tem voz, mesmo que muda,
Mas, Pai, se eu tiver alma vazia,
Não terei nem mãos, nem pés, nem boca.

CLARISSA DAMASCENO MELO


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