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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pr'umbigo do Universo.

Vai avoando no céu um vento quente que repuna. O mato seco dos solos rachados nem mais existem, e, pelo céu, a chuva de poeira insiste em ser real, anuviando as visagens. As andorinhas avoaram para longe de toda a gente, e toda a gente anda 'cas cabeças emudecidas. Cuns trapos em trança enfiados nos lombos, os pequenos agarrados pelas mãos, as mulheres vão cedo caminhar atrás duma fonte de água. As crianças têm bocas sujas, com manchas de Terra em redor e carregam baldes vazios.
E barriga vazia.
E coração vazio.
E futuro vazio.
É tudo vazio nessa Terra, menos o mais.
Menos o povo, menos o amanhecer.
Essa é a vida que se tem lá por dentro das tripas do mundo. Ali é o centro da terra. O chão marrom aguado é chão que se pisa e não deixa pegadas. Os cactos possuem espinhos que não furam. E as mulheres, peitos sem leite. Os homens? Ficam por ouvir, quando anoitece, o choro das crianças.
Isso é mundo de se viver, Deus Pai, Guerreiro?
O céu é de um azul celeste e brilhante, é que Seu Sol vive sem medida seu reinado. O cenário é árido, quente, de pólvora. Como se em argum momento toda a atmosfera vermelha fosse explodir-se.
A lua alumia as noites com mais trégua. Sem muito rigor do Sol, que impunha testas suadas nas gentes do Sertão. E dá-lhe suor pr'essa gente sem destino.
É que é desatino,
Parar de falar de coisas da cidade,
Para olhar um pouco
Pr'umbigo do universo.

CLARISSA DAMASCENO MELO

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