Páginas

domingo, 30 de dezembro de 2012

Deus não pesca.

Uma criança surda e cega
Chora de remorso
Pelos olhos vazantes
Sem destino.

Os olhos tortos escondem
Uma poeira faminta,
Uma casa sem tinta
Uma lembrança de ontem.

Seus olhos respiram sem pulmão,
Pelas ruas de Ilhéus
Pelas praças cheias
De passadas vazias.

O avanço trouxe-lhe
Nós de estômago,
Beliscões no braço esquerdo,
Feitos por teus próprios dedos.

A praça tinha braços
Que se alargavam
E se estendiam
Além dos arranha-céus.

E a criança sem olhos
Nem destino,
Esticava os braços para cima
Na esperança de Deus pescar-lhe.

CLARISSA DAMASCENO MELO

2 comentários: