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sábado, 1 de dezembro de 2012

Doiduras

Se me perguntarem de que sou entendida, responderei com lábios finos: doidura.
Entendo disso, e não de alma, nem de pessoas. Somente os atos controversos que vossas almas cometem é que me fazem algum sentido.
Não vou entender uma declaração de amor, mas vou seguir sorrindo sob um grito no metrô que diz: eu amo você. Não me apetece descobrir como o céu faz chover, mas gosto da chuva que me molha desavisada, escorre em mim e em mim seca. Como secam as lágrimas doidas que aparecem sem querer. Não quero saber como as flores do meu jardim nasceram e estão ali, só quero vê-las ali quando eu sair para olhar a vida passar.
E, aliás, a vida passa. E se eu for escorregar por ela tentando entender todas essas coisas que me entopem, não terei tempo de entender as coisas entupidas por mim. E minha vida é entupir coisas. Entupo o Sol que seca a Terra, entupo a nuvem, que molha a Terra, entupo o homem, que vive na Terra. Só não entupo a Terra porque a sou.
E enquanto os desavisados usam creolina para limpar o mundo, eu fico sem entender coisa alguma. Andam dizendo por aí que as coisas que falo não faz sentido, mas enquanto dizem isso, burlam o tempo das coisas. São tão apressados, mas usam conservantes. E sou eu quem não faz sentido?
Se o gostar daquela flor que nasce no concreto é não pensar, se somente acreditar no amor que nasce por acaso é não pensar, se olhar o Sol e nele enxergar a cura, é não pensar, se correr doida por cima do mar, é não pensar, se amar, malamar e desamar é não pensar, se tomar banho de chuva em dia frio é não pensar, se viver como vivo é não pensar...
Pois então, passarei a vida inteira entendendo só doiduras.

CLARISSA DAMASCENO MELO

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