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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Em branco

Um espaço em branco,
Então eu enxergo o Céu.
Enxergo as linhas diagonais,
Enxergo a terra molhada, e a terra seca
Da seca do Sertão.

Um espaço em branco,
Então eu vejo as estrelas
Que sobem à cabeça dos namorados terrenos.
Vejo um mar e o mar de solidão
Vejo as letras se formando
Leves, à palma da mão.

Busco os abraços nos braços de quem não vejo.
Busco os Nortes nas bússolas quebradas,
Os calcanhares de Aquiles que insistem em arrebentar o mundo.
Eu vejo crustáceos
Um mergulho,
Um piquenique.

Um olho de vidro, no teto, grudado.
Um móbile de pedrinhas azuis e arame,
Um filtro de sonhos
Um pecado
Um amor
Um som.

Um espaço em branco, então enxergo
Meu nome e o nome dele
Sou capaz de ver a cor do vento
E as dores que a vida já me deu.
Vejo os barquinhos de papel da infância
E, então, não quero ver mais nada.

Um espaço em branco
E vejo uma bicicleta
Um machucado com sangue
Um remédio que arde
E uma cicatriz.

Um espaço em branco e,
Pois bem,
Infinitas letras transformam
O mínimo em tudo.
Tudo o que você foi.

CLARISSA DAMASCENO MELO


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