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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Os moleques andam com as mãos em concha.
Dá-se trela, ouve-se estória.

"Mainha não tem nada o que comer, seu moço. O barraco darrente é meio miúdo, mas ninguém anda triste não Tá todo mundo junto Né não? Nóis num liga pro cheiro de lixo, nóis limpa o lixo. O povo da cidade nem tem esse costume, né não, moço? O povo daqui chacoalha e joga tudo fora Eu fico bobo Mas puquê moço? Tendi, vocês gastam demais é isso, né não? Nóis num gasta. Nóis nem come direito. Vou viajar pra xique-xique causdique lá tem lugar pra nois cumer. São Paulo? Deus é pai. Nóis quer só comida, não precisa de cimento não. Vamo, vamo ficar aqui Lá é bom, mas é ruim. Assim: é bom. É, é bom mas deve ser ruim. Não importa moço. Não importa. Quer que eu engraxe seu sapato? Eu faço rápido e é baratinho. As moedas, moço, eu junto pra dar pra mainha Além de pobre é meio gorda. Não, não, eu amo ela. Mas, moço, ei, vem cá.. volta, moço."

A língua é doce. A estória é o que amarga.

CLARISSA DAMASCENO MELO

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