Eu acredito no amor. Acredito em uma manhã
que nasce sem pressa, sem falta, e irradia a luz do Sol depois da escuridão
noturna, um copo de leite quente que esquente um peito frio, uma colher de sopa
para um mendigo com fome, um quadro de cor para uma vida acinzentada, um afago
em uma alma doente...
Disseram-me que as pessoas mentem, mas eu
prefiro acreditar que elas gostam de escrever estórias usando a língua, a voz.
Se existem duas realidades, por que, então, não deixá-las coexistindo? O mundo
é triste demais para ser desacreditado, a vida anda supracitada, espremida
entre prédios, e estamos entre os prédios, dentro dos carros.
As vidas andam ossudas, um pouco sem
importância, um pouco de importância demais. E se me perguntam que horas são,
eu costumo responder: o tempo não existe. E não existe. Existem números
enfiados em uma coisa redonda com dois ponteiros que giram, giram, giram.
Chamam isso de tempo, eu chamo de coisa. É coisa que mede o que não existe.
A vida é tão ossuda que puseram essa coisa no
pulso e são controlados por ela. Também pudera: não há nada mais interessante
que algo que controle tudo. Os atrasos são constantes, mas são feitos de
propósito. Não há porque se atrasar se eu posso cozinhar em três minutos, lavar
a roupa em sete, escovar os dentes em um. O atraso é descaração.
Eu acredito no amor. E só desacreditam nele por que
ele está perdido entre os prédios, entre os carros, entre as empresas e os
grandes negócios. Esconde-se em uma caixa tecnológica, está enterrado no
extinto parque, abaixo do cimento. E ninguém tem tempo para achá-lo.
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