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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Rodopio.


Meus dons existem na toalha molhada
No ônibus lotado
Nas mãos de calos
Nas ruas desertas
Nas mulheres que trabalham nuas
Nos meninos sem carne.

Meus dons existem nos palavrões,
Na vida bruta,
No pressuposto,
E o que é suposto depois do fato.

Minha labuta coexiste com a fome,
A dor
A inércia
E o amanhã.

Meus bens povoam séculos de história perene.
Séculos de eternidade.
Milênios que são contados em segundos.

Eu sou o segundo que conta um milênio.
Nós somos os segundos que contam a História.

Meus olhos são quem conversam
São quem exploram.

São quem faz de um buraco, uma tampa
Um chapéu de palha,
Um santuário.

São quem enxergam portas onde janelas se fecham.
São quem cruzam a rosa dos ventos
Sem direção alguma. Rumo ao infinito.

São quem, ao cruzar o horizonte invisível,
Continuarão rodopiando no chão.

CLARISSA DAMASCENO MELO

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