Venha cá, meu filho, deitar na cama de sua mãe. Não, não chore. Mamãe está bem, está aqui. Isso, isso, deita sua cabeça no meu ombro e me abraça. Deixa mamãe sentir seus bracinhos. Adorei o seu desenho, os médicos me mostraram ontem e então chorei. Não, não chore mais. Estou aqui, ainda... O que queria dizer com o céu chovendo? Ele chove pra você, não chove? Eu sei... É Deus, é Deus chorando conosco. E a Lua? Que quer dizer com a Lua no meio do dia? É a noite, a noite vindo depressa, não é, meu filho? Mas ela, ela é boa. Você dorme e então esquece que está doendo. Não, não toque aí, ainda doi. Pegue aqui, em minha carequinha. Estou bonita, não estou? Sim, estou. Isso é o efeito remédio, meu amor, o remédio fez isso com a cabeça de mamãe. Enlouquece. Maltrata. Mas cura, é, cura. E se cura é bom.
Fique, oh, fique mais um tempo comigo. Deixa eu sentir você aqui. Deixa eu tocar em seu rostinho e dizer ainda que te amo. Deixe-me ficar com você, meu filho, minha alma. Beije, beije o rosto de mamãe. Eu gosto disso! Faz-me lembrar de seu pai. E, cadê seu pai? Ele não vem mais aqui. Acho que têm medo de... Não importa do que o papai sente medo, meu amor. Você não sente, sente? Não, não sente. Eu te amo!
Vai, vai sim, vai dar tudo certo. Diga a sua vozinha que eu ainda estou bem. Diga que eu ainda quero ver todos, se possível for. Diga a seu papai que estou bem. Vou ficar bem, né? Ainda sinto dor, mas o pessoal do hospital me cuida como ele não cuida. Era para cuidar, mas não, não cuida. Venha, aqui, me dê seu último beijinho. É, a pele da mamãe está fedorenta. Ainda não vieram as enfermeiras para me ajudar no banho. Mas beije, ainda assim. Quero sentir na pele áspera o adocicado de sua boca. Ah, você não muda nada! É sempre esse menino doce. Quem será que você puxou? Seu pai sempre foi tão bruto e eu, é, eu sempre fui durona. Você é doce. Adoça-me, meu filho! Mamãe está prestes à partir.
CLARISSA DAMASCENO MELO
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