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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Meu filho.

Venha cá, meu filho, deitar na cama de sua mãe. Não, não chore. Mamãe está bem, está aqui. Isso, isso, deita sua cabeça no meu ombro e me abraça. Deixa mamãe sentir seus bracinhos. Adorei o seu desenho, os médicos me mostraram ontem e então chorei. Não, não chore mais. Estou aqui, ainda... O que queria dizer com o céu chovendo? Ele chove pra você, não chove? Eu sei... É Deus, é Deus chorando conosco. E a Lua? Que quer dizer com a Lua no meio do dia? É a noite, a noite vindo depressa, não é, meu filho? Mas ela, ela é boa. Você dorme e então esquece que está doendo. Não, não toque aí, ainda doi. Pegue aqui, em minha carequinha. Estou bonita, não estou? Sim, estou. Isso é o efeito remédio, meu amor, o remédio fez isso com a cabeça de mamãe. Enlouquece. Maltrata. Mas cura, é, cura. E se cura é bom.
Fique, oh, fique mais um tempo comigo. Deixa eu sentir você aqui. Deixa eu tocar em seu rostinho e dizer ainda que te amo. Deixe-me ficar com você, meu filho, minha alma. Beije, beije o rosto de mamãe. Eu gosto disso! Faz-me lembrar de seu pai. E, cadê seu pai? Ele não vem mais aqui. Acho que têm medo de... Não importa do que o papai sente medo, meu amor. Você não sente, sente? Não, não sente. Eu te amo!
Vai, vai sim, vai dar tudo certo. Diga a sua vozinha que eu ainda estou bem. Diga que eu ainda quero ver todos, se possível for. Diga a seu papai que estou bem. Vou ficar bem, né? Ainda sinto dor, mas o pessoal do hospital me cuida como ele não cuida. Era para cuidar, mas não, não cuida. Venha, aqui, me dê seu último beijinho. É, a pele da mamãe está fedorenta. Ainda não vieram as enfermeiras para me ajudar no banho. Mas beije, ainda assim. Quero sentir na pele áspera o adocicado de sua boca. Ah, você não muda nada! É sempre esse menino doce. Quem será que você puxou? Seu pai sempre foi tão bruto e eu, é, eu sempre fui durona. Você é doce. Adoça-me, meu filho! Mamãe está prestes à partir.

CLARISSA DAMASCENO MELO

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