Prometa-me o céu sem as estrelas,
As montanhas, sem os vales,
As casas, sem as paredes,
As borboletas, sem asas...
Prometa-me o mar sem peixes,
Os pés sem calcanhares,
O rosto sem o sorriso,
A religião sem a fé...
Prometa-me, por favor,
Os túneis sem finais,
O arco-íris com apenas uma cor,
As crianças iguais,
Parto sem dor.
Prometa-me uma música sem melodia,
Uma agonia por dia,
Ficarei feliz se assim tudo for.
É que, enquanto eu estiver sem complemento,
Prefiro ver as coisas por se completarem.
Quero ver quebra-cabeças sem a peça chave,
Gritos sem histeria,
Coração sem moradia.
Quero ver o circo sem fogo,
Palhaço sem graça,
Eu no meio do mundo,
Sorrindo por pirraça.
Quero ver o céu meio sem sentido mesmo,
Por que, enquanto o significado nos foge e deixa,
Vou ficando aqui fazendo minhas queixas.
Vou enumerar o enumerado,
Chorar o já chorado,
Derramar em sua cara
O leite derramado.
E depois talvez eu chore,
Por ter escrito o caos,
Talvez eu nem me importe com meu próprio veneno.
Talvez eu nem assuma e te mostre,
O que em mim está doendo.
Mas, se tiver o mínimo de compaixão,
Vire o seu ouvido surdo para mim.
E me dê as coisas completas.
Pois é na hora em que as nego,
em que mais preciso delas.
Talvez eu só me complete com um pedaço
De coisa perdida.
Entre as coisas que te neguei.
E se escrevi coisa algumas, restos de coisa nenhuma,
Desculpa,
É que pequei.
CLARISSA DAMASCENO MELO
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