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domingo, 21 de outubro de 2012

Mesmas mãos vazias.

Homem e menino se entreolham do espelho.
São duas pessoas,
Morando em uma só.
O menino, vem de longe
Do parque neandertal
Dos casebres fedidos no meio do nada.
Das lixeiras cinzentas no meio da vida.
Dos bosques livres em que ele não podia entrar,
Do olhar soturno de quem o via,
sem querer enxergá-lo.
O homem era o hoje,
O hoje que passou e já é passado.
O homem que se olha no espelho,
E vê o menino antigo,
É o mesmo homem que se lembra
Das crianças remotas,
Do carnaval sem fantasia,
Das músicas de Roda,
Da colher vazia.
Homem e menino possuem,
No tempo-espaço antigo (e novo)
As mesmas mãos vazias,
Os mesmo gestos de fome,
A pincelada de alegria,
O mesmo nome.
A diferença é que arranjaram um terno para o maior,
Enquanto o menor fechava os olhos,
E deixava a vida virar o jogo.

CLARISSA DAMASCENO MELO


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