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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Dos dentes de faca.

Sentou calada no canto estreito da rua,
Fugiu de dois quarteirões,
Os homens a queriam nua.
Correu sem pés,
Os cem quilômetros de fúria,
Parou no acostamento e fez sua prece.
"Deus existe? Até parece!
Pra nós Deus é uma desculpa..."
Viveu sua vida em preto-branco,
Com cores de dor e remorso.
Fora o castigo que lhe deram,
Ninguém era seu amigo,
Mas os mortos eram..
Conversava sozinha no meio do passeio,
As pessoas só a olhavam
"ALUCINÓGENOS..."
Como se suas drogas não fossem muito mais pesadas,
que as drogas verdes,
Ditas baratas.
E baratas passeavam em sua pele - por dentro e por fora,
E enquanto cuspiam-lhe a cara,
Ela se queria morta.
Eis que só tinha o corpo doente,
Na cara, não havia espaços entre as mutilações,
Acima do pescoço, só dente,
Abaixo dele,
Uma coisa imunda que pagavam para ter.
Não era somente uma prostituta,
Era um pedaço do mundo
Que ninguém quer escrever.

CLARISSA DAMASCENO MELO

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