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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Das coisas que não sabem ser.


Vou me ser em fatias. 
E fatias de mim jorrarão, em certa hora, do céu pra terra feito chuva. E em meio aos devaneios doidos de mim para o chão, cairão também os pedaços daquele que está enfiado em mim, sem porta de saída ou opção de escolha. Choverá pedaços de coisa que não sabe ser.
E quem dessa chuva tomar banho, verá sua alma emudecer-se em si, e depois brilhar sem achar motivação. Pois brilho de dentro pra fora e ofusco o meu brilhar só por sentir que brilhar é incerto, insolúvel e não possui locução. 
Brilho sozinha. 
E a intransitividade desse verbo é quem faz dele menos merecedor de atenção. Brilha-se só por leis gramaticais, mas levaram isso para a vida. Triste fato que me sobrepõe e enlouquece.
Pois, se brilhar é estar só, ponho-me aqui a dizer que quero ofuscar a mim, que reluz, só pra ter, por entre meus próprios verbos, alguém que os conjugue e verbalize. 

CLARISSA DAMASCENO MELO

Um comentário:

  1. Clarissa, tem noção do tanto de bonito que esse texto está? Em mim tem sido assim, exatamente assim. Adorei.

    Um beijo.

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