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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Valor de mundo.

Ferro
Metal
Fumaça:
Coisificaram tudo.

Quanto vale
O suor que escorre
Em linha reta
Nas costas de um homem?

Eu vi meu tempo
Passar por cima
De quem não tem tempo de dizer.

Eu preciso dizer:
Quanto vale o Céu?

Eu vi fumaça
Subir pro Céu e
Me pergunto:
Quanto, quanto vale o Céu?

Se um homem chora
Se um homem sente dor,
Qual é o seu valor?

Quanto vale
Um joelho que sangra?

Eu caí de joelhos
Nesta vida
Para sangrar.

E sangro.

Pelos olhos,
Quando vejo às ruas
Gente de rua.

Eu sangro.

Pelas mãos
Que procuram um rosto
Sem encontrar.

Quanto vale
Um homem
Que não sangra?

Coisificaram a massa crua.
Blindam-na.
Vendem-na.
Cheiram-na.

Todo mundo vira massa
E leva coice.

Quanto vale
A mão que bate?

A mão enferrujada
Que brilha por cima
Do hematoma do viver...

Não são mãos:
Os tiros,
A higiene,
O sumiço.

Isso é coisa.

Quantas são
Mãos de mães
Que agarram o filho para dizer:
"- Não vá." ?

Quais são
Mães de mãos
Que levantam a bandeira
Para lutar?

Qual é o valor da saudade?
Quanto a saudade pode custar?

Pois meu mundo
É coisificado
E enquanto coisa,
Anda pelos cantos, fedendo
Anda errado.

Meu valor do mundo
São meus olhos
E minhas mãos.

CLARISSA DAMASCENO MELO



Um comentário:

  1. Muito boa a reflexão que o teu texto propõe. Me lembrou as poesias de Drummond.

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