Ferro
Metal
Fumaça:
Coisificaram tudo.
Quanto vale
O suor que escorre
Em linha reta
Nas costas de um homem?
Eu vi meu tempo
Passar por cima
De quem não tem tempo de dizer.
Eu preciso dizer:
Quanto vale o Céu?
Eu vi fumaça
Subir pro Céu e
Me pergunto:
Quanto, quanto vale o Céu?
Se um homem chora
Se um homem sente dor,
Qual é o seu valor?
Quanto vale
Um joelho que sangra?
Eu caí de joelhos
Nesta vida
Para sangrar.
E sangro.
Pelos olhos,
Quando vejo às ruas
Gente de rua.
Eu sangro.
Pelas mãos
Que procuram um rosto
Sem encontrar.
Quanto vale
Um homem
Que não sangra?
Coisificaram a massa crua.
Blindam-na.
Vendem-na.
Cheiram-na.
Todo mundo vira massa
E leva coice.
Quanto vale
A mão que bate?
A mão enferrujada
Que brilha por cima
Do hematoma do viver...
Não são mãos:
Os tiros,
A higiene,
O sumiço.
Isso é coisa.
Quantas são
Mãos de mães
Que agarram o filho para dizer:
"- Não vá." ?
Quais são
Mães de mãos
Que levantam a bandeira
Para lutar?
Qual é o valor da saudade?
Quanto a saudade pode custar?
Pois meu mundo
É coisificado
E enquanto coisa,
Anda pelos cantos, fedendo
Anda errado.
Meu valor do mundo
São meus olhos
E minhas mãos.
CLARISSA DAMASCENO MELO
Muito boa a reflexão que o teu texto propõe. Me lembrou as poesias de Drummond.
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