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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

É Recíproco.

A reciprocidade matou o dengo o doce matou o verso a linha os dois a reciprocidade matou o engarrafamento de pernas a retórica a conjunção a reciprocidade comeu o caminho o verbo a saudade a diagramação engoliu a lírica o relógio o tempo o querer o saber o voto a opinião a máquina de escrever a reciprocidade comeu Drummond Cécília o alfabeto meu inglês a reciprocidade destruiu os sons acabou com a vírgula as pausas as interrupções a reciprocidade perdeu a rima a reciprocidade verteu lágrima verteu mar oceanos décadas milênios um dia uma hora um nome a reciprocidade caminhou por ruas escuras e perdeu-se lenta em cabulosa inanimação e reciprocidade perdeu dedos o viver a imaginação o poema a atmosfera...

E se eu digo, meu doce, que a reciprocidade acabou com tudo,
É porque, meu doce, ela nunca apareceu.

CLARISSA DAMASCENO MELO

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