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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Hiatos


É que quando se escreve muito, ri-ti-ma-da-men-te, os dedos começam a se cruzar. E surgem os pontos finais, as vírgulas excessivas, os verbos intransitivos e as desavenças do ser. Quando se escreve muito, esmiuçando a si próprio, escorre-se a gota açucarada. É a vida se espremendo, parindo.
A parapsicologia não chega ao cheiro do pé das letras. Pobres psicólogos que nos tentam entender! Não há entendimento, e entender isso já é desentender-se consigo mesmo. Eu gosto do dito pelo não dito. Vê? As coisas que te são diretas, chegam até você e voltam em ato de reflexão. Gosto das coisas que refratam, que aderem, grudam no interior de sua carne e continuam seu trajeto como se não houvesse coisa alguma. Esse é o objetivo da vida: atravessar pessoas.
E que cantem os verbos indecisos, as grandíssimas locuções, as aparições. Pois sem esse cantar, o universo explodiria em minúsculos pedaços. Partículas perdidas no próprio universo, que está dentro de outro, esperando explodir.  Que está dentro de um outro, e de outro, e de outro... Feito caixas que não param de abrir-se e explodir-se.  
E os momentos hiatos existem para provar que somos feitos de pó e que não sabemos pensar. Depois que o verbo se espreme, o fluxo sanguíneo dos dedos diminui, estes endurecem, e ficamos sem escrever coisa alguma.
Esse é o objetivo da vida: fazer, fazer, fazer... e depois parar.
CLARISSA DAMASCENO MELO

2 comentários:

  1. MINHA FILHA!!!! QUE VERVE PARA UMA CRIATURAZINHA TÃO PEQUENA NOS ANOS DE EXISTÊNCIA....PARABÉNS....TEU CAMINHO JÁ ESTÁ MUITO BEM APLAINADO....SUCESSO É CONTIGO!!!

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