O tocador de piano ficará no
canto da sala, com olhos entreabertos, para ver somente metade da história
passar. E, enquanto os seus dedos enrugados perpassarem por todos os cantos do
piano, cuspindo as notas musicais; os personagens, em cena, não notarão
presença, nem de pianista, nem de música.
E enquanto a menina passar
batom, e o rapaz, ensaiar suas falas românticas; a música será singela e doce,
com certo ar de misticismo e emoção. Vai se tratar de um momento prévio, em que
cujos corações se conhecem, mas jamais se tocaram. A música lenta serve para
enlaçar aquele momento em que não se sabe amar, amando. O saber, amor, de amor,
sem sentir.
E, enquanto a menina ouvir
as palavras decoradas, e sorri timidamente para o rapaz corado, a música vai
batucar. Batucará dentro e fora de ambos os corpos, que estremecerão de emoção
aguda, enquanto os corações, gentis e inocentes, morrerão de pouco a pouco, de
bater por contra o peito na vontade de se corar por fora também.
E, enquanto o rapaz, rubro
de vergonha de si, beijar a mão suave da menina de bico vermelho, os seus olhos
se fecharão diante do amor, que, tamanha é sua grandiosidade, que já não caberá
em palavras decoradas, nem nos corações de ambos. E, quando sentir a saliva
adocicada descer-lhe a mão veluda, a menina sorrirá e dirá: também te amo. E
amo demais.
Mas o pianista, tanto quanto
o amor, é confuso e sóbrio. E, quando vir tamanho sentimento diante de si,
tratará de fazer seus dedos enrugados agirem mais rápido. E a música passará de
suave e doce, para um som amargo, de dor e fúria, feito um animal ferido.
Grunhindo, entre as teclas do piano, o som será amargo e infeliz. E, as mãos
veludas da menina se enrugarão também. Será a própria mão do pianista.
O rapaz esquecerá as
palavras decoradas, e não mais as dirá. E se revoltará ao tomar a mão da amada,
que, de tão enrugada, passará a incomodar seus lábios que, embora não saibam
mais as palavras bonitas, sabem ainda o que é belo, e a desejar o belo.
Franzindo sua testa, se afastará em breve. E, enquanto a música tocar suas
últimas passadas de ódio, suas passadas encontrarão a porta de saída.
A menina, emudecida, ficará
na sala, na companhia da música agridoce. E chorará por nem ter borrado o
batom.
CLARISSA DAMASCENO MELO
CARAMBA, CLARISSA...ESTA AQUI É PRA DAR ARREPIOS DE TÃO SOFRIDA.....MUITO BOA MESMO!!!! PARABÉNS!!!
ResponderExcluirwohaa !!! Muito obrigaaada !!!! *_*
ResponderExcluir