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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sem nome.


Ele esperou por ela durante anos. Nunca pensou que um dia pudesse encontrá-la tão suave e perdida. Mas encontrou. E encontrá-la fez as cores do dia aparecerem. Fez as luzes piscarem. Fez as ondas do mar pararem de segundo a segundo, e quebrarem no ar. Fez dos dias, noites longas. Encontrá-la o fez bobo. Mais bobo do que ele costumava ser. Encontrá-la atraiu pra si um pouco de vaidade e orgulho, pureza e paz. Fez as coisas sem sentido terem um pouco de sentido; e as coisas que ele desacreditava, passaram a residir dentro dele.
Ela, não somente em si, refletia luz - no universo inteiro. E até sua introspecção era divertida. O divertia até quando não queria falar com ele. E ela fazia dele um boneco de amor. Ele a amou durante meses enquanto ela estava perto. Amou-a sem pensar em mais nada. Em nada - nada mesmo. Ouviam música juntos, caminhavam juntos, riam juntos - mas não viviam juntos. Ele era dela, mas ela, de quem era?
E, quando pensou que estava tudo resolvido - e quando, inclusive, passou a ouvir a própria música tocar pela primeira vez; a música desafinou, a luz apagou, o riso sumiu. O céu acendeu em dia e o sonho... o sonho foi ser sonhado por outra pessoa.

Acabou.
Acabou.
Acabou.
Acabou.
Ele acordou... e o sonho acabou.
(Aquele velho abrir de olhos que mata.)



CLARISSA DAMASCENO MELO

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