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terça-feira, 26 de junho de 2012

Rafael Mendes

Eis que, no tardar da hora, respiro fundo na tentativa frustrada de esquecer uma certa dor que aparece aguda não somente em mim, mas em toda uma legião de alunos fascinados por um professor. Alegres, por um dia terem compartilhado a voz rouca e a alegria contagiante, inconsolados, por terem perdido uma personalidade tão brilhante quanto notada. E este é o típico dia que eu desejaria fortemente não existir. Mas existe e é todo nosso.
Eu escreveria, se pudesse, um texto para transcrever e traduzir o que não costuma ter tradução: O amor incondicional pelos alunos que, inclusive, por ser recíproco, me coloca a tentar escrever. Mas quando escrevo, surge a teimosia. Por que sei, bem sabido, que jamais será possível traduzir em letras todo um amor que é meu e de todo mundo. Todo um tempo que se foi sem fazer despedida nem hora em nossa porta. Foi assim, de supetão, tudo.
Eu poderia escrever sobre isso. Sobre o amor que a gente sente. Mas, o sentir amor está bem mais relacionado a se agarrar fortemente em algo ou alguém. Agarramos-nos a Rafael Mendes; porém, condiz mais dizer porque. E... digam-me: Por quê? Será o senso moralista passado em todas as aulas? Ou o típico baianês exaltado? Será, ainda, as performances musicais...? As duras críticas contra a politicagem corrupta e desumana... as injustiças sociais... O desapego nosso pelo lugar em que vivemos? Será o gingado que o mantinha de pé até mesmo na hora de proferir um palavrão? Será o jeito de nos fazer rir? Ou, será ainda, uma reunião disso tudo adicionado a um “mais” subentendido e resguardado?
Foi-se um tempo não só de admiração, mas de devoção mesmo. Ele entrava na sala e todas as luzes se apagavam. Parecia que ele próprio era a luz que refletia no quadro. Era aula dele por si próprio. E, sabemos todos, ele brilhava sem fazer força.Dava aula olhando nos olhos. Parecia ter certeza de que era amado. Não será sua partida suficiente para nos fazer esquecer daquilo que foi belo. E será belo para sempre.
O tempo vai passar, e, o que ficará, dentre todas as coisas que importam, é o sorriso sincero, o batuque baiano e a vontade de ver as coisas melhorarem.

Clarissa Damasceno Melo

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