Semana passada pude assistir de camarote a
um debate político. Duas mentes debatendo sobre a atual situação política em que
estamos inseridos. Enquanto debatiam e jogavam, um contra o outro, argumentos
selvagens sobre politicagem corrupta, roubos explícitos, impunidade... pude
perceber que todos os argumentos disponíveis eram..., pasmem,
clichês.
Se, até os nossos
argumentos tornaram-se clichê, imagino eu, de boca aberta, o que se
tornou nosso sistema político. Primeiro, você só decide se quer votar
ou não quando tem 16, 17 ou mais de 70 anos. Nesse meio tempo, você é FORÇADO à
exercer democracia. Democracia? Segundo, as opções de voto são sempre restritas.
Quem são os candidatos? Ah... lembrei: aquele que na última eleição deixou
bastante gente sem receber salário contra aquele que desviava dinheiro em seu
último mandato. É aquela moça super gentil que não fez nada em seu governo. É
aquele senhor, pai de não-sei-quem. E a lista, acreditem, é enorme, cheia de
gente assim.
Sinceramente, não sei
o que fazer com meu voto. Só me resta a tecla branca. Vai doer quando clicar
nela, mas, antes ela do que uma verdinha com poder psicodélico.
E, cá entre nós: que ninguém saiba do meu voto! Pelo menos isso: já temos
privacidade. E, olha que interessante: ao menos um ponto fora do retrocesso.
Será isso o começo de uma evolução? Aguardemos.
É ano de eleição. De voto. De escolha. E, como não
deixaria de ser: de gritaria, competição, promessas. É chegado o momento em que
somente uma escolha pode mudar o rumo dos ventos. E, enquanto carros de som
competem em decibéis por uma vaga em nossos ouvidos, nossas cabeças estouram.
Não basta os horários políticos da TV, é feita politicagem de forma desumana nas
ruas. Posso garantir: candidato nenhum vence no volume do
grito. É difícil demais entender isso?
Há, também, outra coisa que me tira a paciência:
aquelas carinhas coloridas, estampadas no papelzinho, com um sorrisão
(geralmente, eles sorriem. Se não nos ganham pela beleza, ganham pela simpatia).
Em ano de eleição, costuma-se chover rostinhos sorridentes na rua. A poluição,
portanto, torna-se generalizada: sonora, visual e
mental.
E, cheguem mais perto! Aproxima-te mais pra saber
mais uma verdadezinha que resolveu escapolir de mim: Em ano de eleição, se não
houver cuidado, os hipócritas passam a ser nós. Verdade! Nós. Hipócritas. Os que
reclamam demais. Os que veem defeitos demais. Mas, quantos dos que reclamam
fazem realmente alguma coisa? Reclamar e não fazer, desculpem, é
hipocrisia.
Não basta somente destampar o bico da boca. Não
basta somente abrir os ouvidos e olhos. É preciso levantar o bumbum da cadeira,
movimentar as pernas, requebrar o quadril. Não somente em ato de dança. Mas em
ato de amor pelo lugar em que se vive. Porque, embora o mundo já esteja cheio de gente
reclamona, é disso que ele menos precisa: uma legião de
reclamões.
CLARISSA DAMASCENO MELO
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