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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dos meus devaneios.

Sentada na beira do nada, olhando por fora da janela azul, eu me senti saudosa de mim mesma e procurei buscar, nos cantos, os meus pedaços que resolvi perder. Meu Deus. Como pude eu, que sempre fui outra, esquecer de mim mesma e encostar-me num lugar qualquer? Perdi minhas linhas e minhas estribeiras, meu Céu e meu verão, meu inverno, meu outono, minha moda: perdi tudo. Por quantas vezes quis suspirar e não sabia como? Quis andar e não sabia quando, quis fazer de mim quem sempre fui, sem saber por onde. E outrora estive perto de sentir como se nunca houvesse feito sentir antes. E mais uma vez, e outra vez e mais uma.

Sou poeta sem poesia. Sem o frio na espinha, no meio do ventre. Abandonei as letras e meus dedos duros, inquietos, venenosos... Mas eis que me sentei na beira do nada, por cima de tudo, pra procurar saber por onde vaga o eu que sempre fui. Meu Deus. Que me perdoem os afeitos à objetividade, e nisso eu mesma busco o meu perdão. Que me perdoem os afeitos à falsa modéstia - aquela que cerra os dentes pra não fazer sorrir: mas sou pó de mim mesma e sentada aqui no devaneio busco compreender o inexorável prazer de me ser. Se nada fui, agora é que não sou.

Com o perdão da palavra, espero não ser perdoada por vossos olhos, vossas tripas, vísceras e vinho espumante. Espero ser incompreendida, inconstante que sou. E se minhas letras se confundem e se atropelam por cima de minhas ideias; busco o vento que vem da janela aberta espalhar meu pó: eu sumo.

Quem diria eu... me despedindo...

Clarissa D. Melo.

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