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domingo, 9 de junho de 2013

Sou feita de barro.

Peço licença
Com a boca entreaberta
Que é para não incomodar
Essa gente que grita alto
Mas que não sabe gritar.

Estou ausente de meus olhos
Eles se desmontam de mim
Por pena.
Eu não preciso ver a porta entreaberta
Que me leva para o mundo
Que se esconde do lado de fora.

Meus olhos saltaram de mim,
Mas minhas mãos estão aqui, quentes,
Jogadas na inércia pura do devir.
Ora, ora, companheira, o mundo muda,
O mundo voa,
O mundo se transborda,
Mas não sai de si.

Eis de saber que meus olhos
Estão voltando para mim,
Estão rolando no chão de barro,
No barro dessa gente montada por mãos de Deus.
Eu sou barro puro,
Mas meus olhos...
Eles foram feitos de aço.

Rodopiem!
Sambem!

Não os verei à meia noite
Quando a explosão da pólvora
Rebobinar os anos de chumbo
Da bandeira amarela e verde.

A meia noite não chegará jamais
Para meus olhos de aço
Por que meu barro é vermelho
E pinga.

Gota por gota, colorir o Brasil.

CLARISSA DAMASCENO MELO


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